Paul McCartney abre sua nova turnê mundial em Belo Horizonte
Para felicidade dos fãs da cidade, que fizeram até campanha nas redes sociais, cantor se apresenta sábado (4) no Mineirão, sua nova turnê mundial
por João Renato Faria | 01 de Maio de 2013
"Sem querer fui me lembrar / De uma rua e seus ramalhetes / O amor anotado em bilhetes / Daquelas tardes (...) / Muito prazer, vamos dançar / Que eu vou falar no seu ouvido / Coisas que vão fazer você tremer dentro do vestido. / Vamos deixar tudo rodar / E o som dos Beatles na vitrola. / Será que algum dia eles vêm aí / Cantar as canções que a gente quer ouvir?"
Não, eles nunca vieram. Sucesso do longínquo 1979, Rua Ramalhete, do mineiro Tavito, falava de namoros adolescentes, do colégio Sacré-Coeur e do desejo que todos tinham de um dia ouvir aqui os Beatles ao vivo. (Na verdade, o grupo já estava desfeito quando a música foi composta.) Mas parte desse sonho de várias gerações de belo-horizontinos vai se realizar no próximo sábado (4), no momento em que Paul McCartney subir ao palco para finalmente realizar um show na cidade. Nessa noite, um recorde deverá cair. O público de 53 000 pagantes será o maior já registrado na capital em um espetáculo-solo, superando os 40 000 que viram o também inglês Elton John, em março. Belo Horizonte vinha sendo cotada para receber um show de Paul McCartney desde 2010, quando o ex-beatle voltou a se apresentar no Brasil depois de dezessete anos. Naquela ocasião, a produtora mineira Nó de Rosa entrou na briga por uma das datas disponíveis, mas esbarrou na falta de espaços adequados. O estádio da Pampulha, candidato natural, havia sido fechado para as obras de modernização antes da Copa do Mundo. Em 2012, quando uma nova vinda de sir Paul foi anunciada, a Nó de Rosa chegou a cogitar a possibilidade de levar o espetáculo para o Estádio Independência, no Horto, ou para o Mega Space, em Santa Luzia. Não deu certo. No primeiro, o problema foi a altura do teto do vestiário. Palcos montados sobre ele ficam 1,70 metro mais altos que a medida ideal, prejudicando a visibilidade para o público. No caso do Mega Space, o obstáculo foi a distância (18 quilômetros do centro de BH). "O único lugar possível era mesmo o Mineirão", diz Gegê Lara, sócio da Nó de Rosa.
Lara e sua sócia já tinham perdido as esperanças de trazer o ex-beatle. Depois de três passagens de Paul McCartney pelo país - por São Paulo e Porto Alegre, em 2010, pelo Rio de Janeiro, em 2011, e por Recife e Florianópolis, em 2012 -, eles não acreditavam que o músico tivesse interesse em voltar pelo quarto ano consecutivo. No meio de 2012, porém, Barrie Marshall, empresário do cantor, ligou para Luiz Oscar Niemeyer, dono da produtora carioca Planmusic e responsável por todas as vindas de McCartney, e informou que o astro de 70 anos faria mais uma turnê em 2013 e gostaria de passar novamente pelo Brasil. "Pensei em BH na hora", conta Niemeyer. Àquela altura, as obras no Mineirão já estavam na reta final e o problema da falta de espaço adequado deixaria de existir. As negociações começaram em agosto.
A ideia era que Paul McCartney fosse o primeiro artista a se apresentar no novo Mineirão, privilégio que ficou para Elton John. "Tivemos de nos adequar à agenda do ex-beatle, que é complicada", explica Márcia Ribeiro, a outra sócia da Nó de Rosa. A espera, garantem os produtores, será recompensada. O show de três horas de duração no sábado será o primeiro da nova turnê internacional do artista, a Out There, que passará ainda por Goiânia e Fortaleza e depois seguirá para Estados Unidos, Canadá, Áustria, Itália e Polônia.
Oriente-se: o Mineirão foi dividido em oito setores. Cada um deles vai contar com um portão específico para a entrada do público
Pesou na decisão a boa estrutura do novo Mineirão. Ao contrário do Engenhão, no Rio de Janeiro, que precisou de ajustes para receber o cantor em 2011, o nosso Gigante da Pampulha atende a todos os critérios para a imensa logística do espetáculo. Na última quarta (24), quando o amistoso entre Brasil e Chile terminou, vinte carretas de equipamentos já estavam a postos para descarregar o equipamento alugado no país. Neste fim de semana, chega da Inglaterra o resto da estrutura, suficiente para encher outras vinte carretas e que inclui o palco com quase 75 metros de largura, 35 metros de profundidade e 15 metros de altura. No meio da parafernália eletrônica, há até um elevador, que será instalado na frente do tablado para suspender o cantor a 8 metros de altura. Quatro torres - duas no meio do campo e duas do lado oposto ao palco - garantirão que o som chegue com qualidade a qualquer ponto do estádio. Tudo deverá estar pronto até quinta-feira (2), já que na sexta McCartney fará um show completo sem plateia, para testar som e efeitos especiais. Será o ensaio geral da nova turnê do músico.
Desde que os primeiros boatos sobre a vinda do ex-beatle começaram a circular, no ano passado, os fãs estavam ansiosos pela confirmação da data, que só ocorreu em março. O primeiro lote de 19 000 ingressos - uma pré-venda restrita a clientes do Banco do Brasil e integrantes do fã-clube oficial - esgotou-se em poucas horas. As outras 34 000 entradas postas à venda dois dias depois viraram fumaça em menos de 24 horas. Durante a madrugada, o volume de acessos fez o site de comercialização ter uma pane, o que acabou sendo providencial. "Se não fosse por isso, não teríamos ingressos nas bilheterias físicas, onde já havia filas esperando pelo horário de abertura", conta Márcia. Assim que McCartney subir ao palco, os belo-horizontinos deverão ser gratos não apenas ao empenho dos produtores, mas ao grupo de seis amigos que criou a campanha "Paul, Vem Falar Uai". O sexteto se conheceu pelas redes sociais - quando se preparava para o show de outro ex-beatle em BH, o baterista Ringo Starr, em 2011 - e teve a ideia da mobilização virtual para mostrar que havia grande interesse dos belo-horizontinos por um espetáculo do ex-beatle. A campanha caiu na boca do povo. "Não esperávamos criar um bordão que acabaria sendo adotado até pela organização do show", diz a jornalista Priscila Brito. Os próprios produtores reconhecem que o esforço do grupo contribuiu para as negociações com o time de McCartney. "A empolgação deles foi contagiante", afirma Niemeyer.
Por questões de segurança, vários detalhes sobre a chegada e a estada do cantor na cidade não são divulgados. O nome do hotel onde ele se hospedará, por exemplo, é mantido em sigilo. Muitos fãs, porém, reservaram quartos no Ouro Minas, no Ipiranga, apesar de a direção do cinco-estrelas não confirmar nada. Embora se mostre sempre muito simpático com o público, McCartney é extremamente preocupado com a própria segurança desde que John Lennon foi assassinado por um criminoso que se passou por fã, em 1980. Por isso, sessões de autógrafo e passeios pela cidade estão fora do programa. Entre técnicos de som e assistentes particulares, cerca de 120 pessoas acompanham o astro na turnê. No sábado, elas se juntarão a mais 2 400 profissionais daqui envolvidos na montagem do espetáculo. Durante as três horas previstas de apresentação, o músico se alternará no comando de diferentes instrumentos, passeando por contrabaixo, guitarra, violão, bandolim, piano e ukelele, uma espécie de guitarra havaiana, enquanto interpreta sucessos dos Beatles, do Wings e da carreira-solo. O repertório do show ainda é segredo. Mas não devem ficar de fora clássicos como Hey Jude, Yesterday, Live and Let Die, Let It Be - enfim, as canções que a gente quer ouvir, quem sabe com um "uai" no meio.
A longa espera pelo astro
Há três anos, produtores locais tentam trazer o ex-beatle
Primeira tentativa
Com o Mineirão fechado para a reforma, a capital foi descartada na turnê de 2010, que acabou passando apenas por São Paulo e Porto Alegre.
Dupla empenhada
Donos da Nó de Rosa, Márcia Ribeiro e Gegê Lara resolveram, em 2012, estudar a possibilidade de trazer Paul McCartney para outros espaços na cidade.
Locais vetados
A impossibilidade de montar um palco adequado no Estádio Independência, no Horto, e a distância entre a capital e o Mega Space, em Santa Luzia, tiraram BH da disputa por datas na turnê do ano passado.
Enfim entre nós
Com a reabertura do Gigante da Pampulha, BH finalmente conseguiu ser incluída na agenda do pop star. Desde a madrugada, fãs já estavam na fila da bilheteria no dia 1º de abril. Os ingressos viraram fumaça em menos de 24 horas.
Um chef para Paul
Fernando Abdo Mendonça, do Verdemar, servirá o músico
Vegetariano radical, Paul McCartney viaja sempre acompanhado do seu próprio chef de cozinha, Sean Leitch. Toda a sua equipe de apoio tem de aderir à dieta sem carne. Em cada parada da turnê, um mestre-cuca da cidade é convidado para auxiliar Leitch na compra de ingredientes e no preparo dos pratos. Em BH, a missão ficou com Fernando Abdo Mendonça, chef do supermercado Verdemar, que passou oito anos na Inglaterra e trabalhou no Royal College de Westminster. Segundo ele, o maior desafio é encontrar fornecedores orgânicos, como exige McCartney. Mendonça pretende dar um toque regional ao cardápio. "Quero mostrar coisas nossas, como couve, laranja-serra-dágua e ora-pro-nóbis."
McCartney ao piano: o cantor se reveza em vários instrumentos
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